Lições de uma volta ao mundo para a gestão de um programa de voluntariado

Giuliana Preziosi
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Em 2014 embarquei na maior aventura da minha vida, meu marido e eu resolvemos viajar pelo mundo por 530 dias. Após trabalhar por mais de treze anos no mundo corporativo na gestão de programas de voluntariado e projetos sociais, resolvi aproveitar um pouco da minha experiência para viabilizar esse sonho.

Você deve estar se perguntando, mas o que a gestão de um programa de voluntariado tem a ver com uma viagem de volta ao mundo? Muito mais do que imagina! A sinergia começa nas motivações que podem nos levar a realizar essas duas coisas. Em ambos o que nos move é uma sede por mudanças, a fé por acreditar num mundo melhor, a curiosidade por entender as relações humanas e a vontade de fazer a diferença.
Como lidar com a gestão de um programa de voluntariado administrando orçamentos super enxutos, realizar atividades diversas durante todo o ano, lidar com organizações sociais, administrar os desejos e anseios dos voluntários e ao mesmo tempo estar sempre propondo ações diferentes?  Você se identificou com alguma destas questões? Então dá uma olhada nas dicas abaixo e veja como fazer da gestão de um programa de voluntariado uma viagem bastante transformadora.

Lição 1: Mesmo com pouco orçamento, é possível fazer muito
Viajar pelo mundo não é algo somente para milionários como muitos pensam, mas exige uma organização financeira bastante rigorosa. E para isso, lidar com um orçamento apertado vira um objetivo, uma meta a ser alcançada todos os dias para que a viagem possa ser concluída. Gestores de Programas de Voluntariado conhecem como ninguém o desafio do orçamento apertado. É comum uma empresa decidir criar um programa de voluntariado com verbas super reduzidas. Em tempos de crise, muitos têm que aprender a lidar com cortes de verba imprevisíveis, o que deixa a gestão do programa ainda mais desafiadora.
E qual o segredo para lidar com essa situação, seja em um programa de voluntariado ou viajando pelo mundo? O segredo está no poder de suas escolhas. As decisões não podem ser tomadas de forma aleatória e sim estratégica.
O primeiro passo é avaliar o contexto, em que fase está meu programa, quais os desafios tenho pela frente, como a empresa está se comportando dentro desta situação e o que meus voluntários estão demandando neste momento. No caso da viagem, dependendo do custo de vida do país que estávamos planejando visitar, decidíamos quantos dias ficar por lá. Países com alto custo de vida: menos dias e países de baixo custo: uma temporada maior.
O segundo passo é estabelecer prioridades, quais são as demandas mais urgentes, o que é base para que o programa aconteça e quais os problemas que eu tenho que resolver neste momento. Na viagem selecionávamos atrações e passeios que tínhamos mais interesse em conhecer e não somente porque estava mencionado em um guia de turismo. Por último vem a parte mais desafiadora, abrir mão daquilo que não for considerado prioridade. Uma dica é compartilhar suas decisões com os voluntários, afinal eles estão envolvidos no mesmo contexto e se eles se sentirem parte da tomada de decisão, ao invés de reclamar vão apoiar você. Numa viagem a dois se a gente não compartilhar as decisões é briga na certa!

Lição 2: Planejamento é fundamental

Todo mundo adora falar que planejamento é fundamental, mas poucos adotam isso de verdade nas suas vidas. Se você acha que viajar o mundo é incrível, te garanto que sem planejamento é quase impossível. Digo “quase impossível” porque tem algumas pessoas malucas que saem por ai com mochila nas costas sem direção, para onde o vento levar. Da mesma forma que tem empresas que começam a realizar pequenas campanhas de doações e acabam chamando isso de programa de voluntariado.
Só que da mesma forma que voluntariado não se faz somente com arrecadações, uma viagem sem rumo pode acabar antes do que se imagina. Campanhas são ótimas para mobilizar voluntários e atrair pessoas, mas um programa estruturado vai muito além disso. Quando se tem planejamento os resultados são infinitamente superiores.
Um dos segredos para a gente ter conseguido ficar tanto tempo viajando foi usar a estratégia de seguir o sol na hora de montar o roteiro. Isso fez com que carregássemos menos peso na mala e pudéssemos aproveitar ao máximo cada país que estávamos conhecendo, já que no inverno alguns lugares podem até ter o acesso restrito ou limitado. Planejar é pensar onde você quer chegar e decidir o melhor caminho para chegar lá. Tudo isso, antes de pegar a estrada.

Lição 3: É preciso entender a realidade local

Assim como para um voluntário é fundamental entender a realidade de cada organização social antes de desenvolver uma atividade, nós tínhamos que conhecer a cultura e as tradições dos países antes de chegar neles.
Quanto mais a gente puder conhecer sobre o público a ser beneficiado, melhor será para ajudá-lo. Simples e poderoso! Muitas vezes os voluntários, ansiosos por colocarem a mão na massa, acabam criando ações com base em interesses do grupo e se surpreendem ao chegar na instituição e não serem bem recebidos. Simplesmente porque não era o que a instituição precisava. Quando realizamos um bom diagnóstico aumentamos em 90% a chance de êxito para alcançar um objetivo, os outros 10% é pura sorte.
Viajando pelo mundo, quanto mais conhecíamos a realidade local, melhor era a nossa interação com cada pessoa que encontrávamos, melhor entendíamos os problemas de cada país e as oportunidades para ajudar cada comunidade. Consequentemente, nossa experiência no local ficava cada vez mais rica.

Lição 4: Ouvir tem um efeito mágico

Você já se perguntou porque temos dois ouvidos e somente uma boca? É porque aprendemos muito mais quando ouvimos do que quando falamos.  As maiores lições que já tive na vida foi de momentos que vivi e histórias que ouvi. Seja de um guru na Índia, de um guia no Butão, de uma família pobre que nos convidou para conhecer sua casa em Myanmar ou de crianças que contavam suas angústias nas Ilhas Salomão enquanto eu caminhava na praia.
O principal segredo do engajamento de voluntários é despertar o sentimento de querer jogar junto. E para isso a gestão participativa é fundamental. Quanto mais os voluntários se sentirem parte do programa mais eles vão se engajar para realizar as ações. E isso se conquista com o ouvido. Dedique tempo e crie ferramentas para escutar seus voluntários, faça disso algo perene e não pontual.

Lição 5: Experimentar o novo te leva mais longe

E por fim, não tenha medo de experimentar o novo. Voluntários adoram dar ideias e são muito criativos. Após escutá-los, se dê a chance de implementar ideias ousadas e diferentes. Não precisa ser nada grandioso e de alto custo porque o novo também pode estar no simples e no corriqueiro, mudando somente a forma de fazer algo já conhecido.
Quando se está viajando, muita gente tem medo de testar o novo, simplesmente porque está em um lugar desconhecido, mas eu garanto que se você tiver passado por todos os itens acima, experimentar o novo, vai ser como a cereja do bolo. O toque final que vai fazer de suas ações algo marcante e inesquecível.

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Giuliana Preziosi, é consultora e palestrante. Atuou como gestora de Responsabilidade Socioambiental no Bradesco e na Arno. Possui MBA em Gestão da Sustentabilidade e cursos de especialização em Universidades Internacionais como UC Berkeley e Columbia University. É colunista da Revista Plurale, participou de renomadas Conferências da ONU e realizou palestras nacionais e internacionais. Seu objetivo é ajudar pessoas a construírem suas histórias inspiradoras.
Para conhecer seu trabalho com foco em engajamento e motivação de colaboradores e voluntários acesse:
www.giulianapreziosi.com.br
Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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