A essência de qualquer ação de engajamento está em saber ouvir, e como é difícil as pessoas entenderem como se faz isso verdadeiramente. Muita gente se engana ao acreditar que nós ouvimos apenas com nossos ouvidos. Quando a grande verdade é que para ouvir verdadeiramente não bastam os nossos ouvidos, é preciso também usar a nossa mente e o nosso coração.
Você já foi assistir um filme ou uma peça de teatro e sua mente ficou ligada nas coisas que estavam pendentes e tinham que ser resolvidas? Você já começou a escutar uma música que te fez lembrar de alguma situação da infância e sua mente pareceu ter voltado no tempo até esquecendo da música que estava escutando? Já assistiu uma apresentação ou palestra onde não conseguia prestar atenção em quem estava falando? Já saiu com os amigos para conversar, mas ficou preocupada com os filhos em casa e nem se lembra mais do que se tratou a conversa? Em todas essas situações a gente apenas acha que está ouvindo alguma coisa.
Em minhas viagens, eu sempre tive o sonho de conhecer o pequeno país no meio dos Himalaias chamado Butão. Um país que, ao invés de medir seu desenvolvimento com o tradicional PIB (Produto Interno Bruto), criou um indicador próprio, o FIB (Felicidade Interna Bruta). Cheguei tão eufórica no lugar que não me aguentava de tantas perguntas que tinha para fazer. Ao encontrar o guia que nos aguardava no aeroporto, desembestei a falar igual uma louca. E após centenas de perguntas, conclui com a última questão ao guia: “Você é feliz?”. Ele, sério, me olhando como aquela pessoa maluca que não parava de falar apenas respondeu: “O que é felicidade para você?” E como um tapa na minha cara eu me dei conta que se eu não aprendesse a ouvir verdadeiramente tudo o que estava acontecendo ao meu redor durante minha estadia no país, eu jamais conseguiria responder uma pergunta tão complexa como esta.
Segundo a Teoria U, desenvolvida pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), são propostos quatro níveis de escuta. O primeiro chamado de “downloading” se dá quando você simplesmente escuta o que você já sabe, reconfirma sua opinião ou julgamento. No segundo nível chamado de escuta factual, você nota algo diferente e descobre alguma coisa que vem de fora do ambiente em que está acostumado. A escuta empática é o terceiro nível, quando você se coloca na posição de enxergar as coisas pelo olhar da outra pessoa. Já o quarto nível, chamado de escuta generativa, requer uma conexão muito maior entre emissor e receptor da mensagem em um espaço de colaboração e co-criação. São principalmente nos níveis 3 e 4 que os ouvidos deixam de ser a parte mais importante do processo de escuta e abrem espaço para a mente e o coração. Cria-se um ambiente onde as ideias fluem de maneira coletiva e os pensamentos se convergem dentro de um único objetivo.
Ao utilizar estes últimos níveis de escuta, você aprende a enxergar o valor por trás de palavras soltas. Estabelece uma conexão muito maior com o outro e cria um ambiente de confiança capaz de estreitar relações.
O engajamento verdadeiro está na busca de valores similares, no entanto para encontrá-los é preciso entender a forma de pensar das pessoas que queremos engajar. Quando estamos dispostos a ouvir verdadeiramente o outro, conseguimos entender quais os nossos valores convergentes e assim buscar os melhores caminhos para mostrar essa homogeneidade de pensamentos, ideias e conceitos na prática.
Claro que para de fato se engajar alguém nem tudo se resume ao saber ouvir, mas sem esse primeiro princípio os demais não se sustentarão. Além disso, esse processo de aprendizado sobre nossa escuta é extremamente rico e valioso e pode nos ajudar a enxergar o mundo de forma diferente. Faça o teste, deixe de ficar apenas fazendo downloading das coisas ao seu redor e busque utilizar seus sentidos para algo muito maior do que a pura descrição do “para que eles servem”. Quando estamos abertos para experimentar algo novo, a mudança acontece.
Por Giuliana Preziosi especial para Revista Plurale
Palestrante e sócia consultora na Conexão Trabalho