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Teoria U: uma jornada de inovação para uma nova liderança

Giuliana Preziosi
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E se você pudesse co-criar o futuro que emerge? Pode parecer estranho e difícil de identificar formas práticas de fazer isso. No meio corporativo então, aquele mais cético vai levantar a mão e dizer “não viaja”. Agora imagine um ambiente colaborativo, onde as ideias surgem de uma forma que fica até difícil de identificar seu autor, onde líderes conseguem enxergar soluções para os problemas mais complexos de serem resolvidos, deixando de pensar apenas em si mesmos e considerando o todo. Movendo-se do “Ego” para o “Eco”.

 Agora pense numa metodologia capaz de trazer um olhar diferenciado, gerenciar mudanças, otimizar soluções e aumentar a produtividade. Prototipar ideias, identificar caminhos e inovar não só no meio corporativo, como também na forma de se relacionar com a sociedade.  
Vivemos em um mundo de rupturas onde cada vez mais nos afastamos de nossos propósitos e acabamos perdendo a conexão com os outros. As crises que assolam diversos países mostram que o caminho para mudança não é apenas físico e sim comportamental. Mas como mudar a forma de fazer as coisas considerando a urgência pela tomada de ações efetivas, a necessidade latente de mudança e a complexidade das relações humanas?
A Teoria U começou a ser desenvolvida em 1996 no MIT (Massachusetts Institute of Technology) por Otto Scharmer, Peter Senge e Joseph Jaworski, quando criaram o conceito chamado “presencing” (uma mistura de “presence”, presença, e “sensing” sentindo.) Descrito como a habilidade de sentir e trazer ao presente o melhor futuro potencial de alguém.
Otto Scharmer, com o apoio de seu colega de MIT, Peter Senge, expert em gestão da mudança e conceituado autor do livro “A quinta disciplina”, estudou durante anos os processos de mudanças organizacionais visando ajudar as organizações a lidarem com seus problemas a partir de um pensamento sistêmico. O conceito ganhou o mundo a partir do lançamento de seu livro “Teoria U” em 2009.  Scharmer é um verdadeiro apaixonado pelo seu trabalho, em 2015 recebeu o prêmio Jamieson pela excelência em ensino no MIT, e em 2016 foi considerado um dos 30 melhores profissionais de educação no mundo pelo Globalgurus.org.
A teoria U é considerada uma tecnologia social, para conectar indivíduos, empresas e toda a sociedade.  É uma metodologia de inovação que propõe uma jornada representada graficamente no formato de um “U”. Para percorrer esse caminho é preciso considerar 3 premissas básicas: Mente aberta, Coração aberto e Vontade aberta ou “open will” no seu conceito original. Colocando de forma simples, deve se levar em consideração que o ato de fazer, de realizar uma ação é consequência de um alinhamento com seus valores e sentimentos (coração) que tem o potencial de ser altamente transformador se incorporado com a mente aberta a novos olhares sem filtros ou pré-julgamentos. Ou seja, cabeça, coração e mãos devem trabalhar em favor de uma mesma direção. Pode parecer fácil, mas já parou para pensar como isto não é tão simples assim? É comum nossos pensamentos nem sempre estarem associados com o ato de fazer, ou ainda, fazemos coisas que muitas vezes não correspondem ao que estamos sentindo.
Imagine a letra “U” como um percurso, as 3 primeiras fases são de descida: Suspender, Direcionar e Deixar ir. Aqui o objetivo é questionar seus próprios modelos mentais, saber ouvir verdadeiramente, desabilitar filtros, observar e sentir a realidade e interagir com o seu eu mais profundo. A base do “U” é o ponto de transformação onde está o conceito do “presencing”, ou seja a habilidade estar presente, de se conectar, sentir e descobrir o propósito. E assim a subida deste percurso sinuoso é acompanhada por mais 3 fases: Deixar vir, Decretar a lei ou cristalizar e Incorporar. É nesta hora que as ideias e possibilidades surgem e podem ser integradas, hora do alinhamento e começo da fase de prototipação para dar vida às soluções.
Pode parecer complexo quando se descreve cada fase e difícil de entender sua aplicabilidade no dia a dia. Mas começar a aplicar alguns conceitos da Teoria U é mais simples do que se imagina. Fazendo cursos sobre o tema e conversando com várias pessoas, aprendi que para entender o que é a teoria não basta ler sobre o assunto, precisa vivenciar.  E uma dica para entender melhor como funciona isso é avaliar um dos pontos essenciais nesta metodologia:  a sua escuta.
É impressionante como a maior parte do tempo que estamos escutando algo, não estamos absorvendo nada novo. Simplesmente porque não sabemos ouvir verdadeiramente.  A Teoria U propõe 4 níveis de escuta. O primeiro chamado de “downloading” se dá quando você escuta somente o que você já sabe, reconfirma sua opinião ou julgamento. No segundo nível chamado de escuta factual, você nota algo diferente e descobre alguma coisa nova que vem de fora do ambiente em que está acostumado. A escuta empática é o terceiro nível, quando você se coloca na posição de enxergar as coisas pelo olhar da outra pessoa. Já o quarto nível, chamado de escuta generativa, requer uma conexão muito maior entre emissor e receptor da mensagem em um espaço de colaboração e co-criação. São principalmente nos níveis 3 e 4 que os ouvidos deixam de ser a parte mais importante do processo de escuta e abrem espaço para a mente e o coração. Cria-se um ambiente onde as ideias fluem de maneira coletiva e os pensamentos se convergem dentro de um único objetivo.  Faça o teste, e durante 1 semana observe a forma que está ouvindo, se auto avalie e preste atenção na sua conexão com a outra pessoa.
O interessante da teoria “U” é que ela ajuda as pessoas a se transformarem antes de mudarem o ambiente, a situação ao seu redor ou resolverem o problema. É exatamente o processo de autodescoberta que gira a alavanca necessária para a mudança do propósito em questão.
No mundo cada vez mais egoísta em que vivemos, essa é uma oportunidade de inovar trazendo soluções colaborativas e co-criadas em um ambiente em que todos mergulham na mesma jornada. Valorizando o seu eu individual e trazendo soluções criativas para o coletivo.
No Brasil há exemplos de aplicação da Teoria “U” nas mais diferentes frentes. No ambiente corporativo empresas estão utilizando as ferramentas disponíveis para inovar em seus processos e propor novos projetos, aumentando sua produtividade e gerando um maior engajamento de colaboradores. No meio acadêmico universidades conceituadas como a Fundação Getúlio Vargas possuem grupos de estudos em Teoria “U” e conversam sobre a possibilidade de terem cursos focados no assunto. A quantidade de Hubs que começaram a receber interessados em praticar as ferramentas propostas pela metodologia duplicou no último ano. Alguns hubs estruturaram pequenos cursos específicos e facilitam sessões práticas trazendo atividades e ferramentas ligadas a teoria. Algumas pessoas já aplicam a teoria em seus processos coaching. Consultorias aplicam suas ferramentas em oficinas e treinamentos.  Organizações do terceiro setor começaram a criar laboratórios de inovação em projetos sociais utilizando a metodologia da teoria “U” como base. E visando alcançar um número cada vez maior de adeptos a plataforma de cursos gratuitos EDX, em parceria com o MIT, lançou o curso U.lab: Leading from the Emerging Future, que desde 2015 já contou com a participação de mais de 75.000 pessoas de 183 países. Para quem quiser saber mais sobre isso, está disponível em português o livro “Teoria U” de Otto Scharmer, e a próxima edição do curso pela plataforma da EDX está programada para iniciar em setembro deste ano.
Referências:
https://www.edx.org/
https://www.presencing.com/
http://www.ottoscharmer.com/
www.huffingtonpost.com/otto-scharmer

por Giuliana Preziosi
Palestrante e Sócia da Consultoria Conexão Trabalho
www.giulianapreziosi.com.br

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